No fundo, todo mundo quer melhorar sua pilotagem.
Você acha que pilota bem até que um amigo fica na sua frente no pelotão, e aí você vai acompanhando a pilotagem dele. A moto dele flutua no asfalto. Para ele é tudo tão simples, tão orquestrado, tão suave que você descobre que tem ainda o que melhorar.
Isso aconteceu comigo num trecho que considero "medicinal". Sempre que tenho um tempo, vou rodar por lá.
Decidi me impor um desafio: iria fazer a descida da serra sem frear. Custei para achar a marcha adequada. As tomadas de curva nem sempre eram as melhores. Se acertava na primeira, a moto chegava muito rápida na segunda curva e aí não dava certo. Por fim, estava descendo e subindo de uma forma que me agradava. Era prazeroso. Eu, moto e estrada nos entendendo.
Aí vem o Giba, na minha frente a moto dele. Fluindo, Suave, Economizando Pista, Perfeito. Descobri que podia melhorar e, o que me animou, agora tinha um professor.
Humildemente fui buscar conselhos porque não sou bobo. Quero aprender com os melhores.
Dois conselhos dele foram fundamentais e vou repassar agora:
1- Sempre olhe lá na frente, para onde quer ir. SEMPRE.
Isto não é novidade. Isso todo mundo sabe, você vai dizer. Claro, eu também sabia. Mas nem todo mundo pratica. Nem todo mundo torna isso automático.
Eu sempre olho lá para a frente, até que uma mureta, um guardrail, um pneu na estrada me chama a atenção. E como a gente SEMPRE VAI PARA ONDE ESTÁ OLHANDO, olha eu lá perdendo a tangência da curva.
Se é um animal, um risco iminente, claro, fique atento. Mas muretas, guardrail e pneus no asfalto não mudam de lugar. Não requerem atenção neles. Você os percebe e já ajusta o traçado, muito antes de estar perto deles.
Pratique até que seu conhecimento vire experiência, vire rotina, entre no automático. Essa é a primeira dica.
Vamos à segunda dica. Antes, uma explicação: Toda pista de rolamento nas estradas tem dois trilhos marcados pelos pneus dos carros e caminhões, correto? Pois bem, independentemente de quantas pistas existam na estrada que você está rodando,
2- Escolha um dos trilhos marcados pelos pneus dos carros e se acostume a trafegar por alí.
Quer dizer, siga o trilho. Nada de começar a curva num lado da pista e terminar do outro. Se policie para ajustar sua trajetória a um dos trilhos da pista que estiver seguindo. Sua estrada, por assim dizer, terá 1/4 do tamanho da estrada (se ela for de duas pistas). Entendeu? Treine assim. Force sua tocada para que esse trilho lhe seja suficiente. Você vai descobrir que poucas vezes será pego de surpresa. Sempre vai sobrar muita pista para você sair de alguma situação que aparecer de repente.
No mais, é aliviar a mão antes da curva (eu sempre desço uma marcha para ter o motor "cheio"), depois é um sincronismo entre inclinar e abrir o acelerador. Tudo muito suave.
Você saberá quando fez certo porque é perceptível. Vá acelerando e quando enxergar o final da curva, o acelerador já estará bem aberto. Se baixou alguma marcha é hora de empurrar o pé esquerdo para cima.
Fique atento ao final da estrada, se tem outra curva, a dosagem de saída de uma curva precisa ser adequada à tomada da outra curva. Você não quer ser bom "em uma curva". A idéia é FLUIR, em toda a estrada.
Não tenha pressa, não se apresse. "Leia" a estrada, entenda seu traçado. Viagem boa é aquela onde não temos que usar os freios. Se precisar, reduza a velocidade até encontrar aquela onde você e a estrada se entendam.
Não se preocupe se está devagar. Se tivermos 5 motociclistas numa mesma estrada, teremos 5 estradas diferentes. Para cada um a estrada se apresenta de uma forma diferente. Respeite seus limites, mas não se acomode neles. Procure sempre melhorar.
Escolha, perto de você, uma estrada "desafiadora" com boas curvas. Pratique nela e veja sua evolução. Será sua "Pista Medicinal". Reconheça seus erros e vá se aprimorando. Um pouco a cada dia.
