De tudo que eu li em vários blogs. De todos os relatos que ouvi, e de tudo que vivenciei na minha viagem ao Atacama, descobri algumas questões que, ou não prestei atenção, ou ainda não foram dita sobre ir ao Atacama de Moto.
Vamos às 10 questões que levantei sobre o tema:
MITO 1: Atacama é um desafio para os motociclistas.
O desafio de ir ao Atacama de moto não está nas estradas nem nas poucas ou nenhuma curva do caminho (exceção feita para o trecho dos Caracoles, ok?).
O desafio é físico e mental. É de preparo físico, de suportar intempéries, de longos trechos de reta, monótonos.
É o desafio do frio, do calor intenso, da altitude que cansa e desnorteia rapidamente o piloto.
Então prepare-se bem. Treine longas jornadas sobre a moto. Prepare seu corpo e sua mente para levá-los próximos da exaustão.
MITO 2: O ponto mais alto é em SUSQUES, a 4.170 metros.
Não. Lá é onde tem o Marco e onde todos param para tirar fotos.
Mas o ponto mais alto fica depois da Aduana, já em território chileno, a uns 90 quilômetros de San Pedro.
Alí você estará a 4.839 metros e dalí até San Pedro descerá 2.600 metros em pouco mais de 90 kms.
MITO 3: O desafio começa em Purmamarca e termina em San Pedro.
Não. Esse é o desafio da altitude.
Para quem seque por Salta, o desafio começa entre Resistência e Salta, para quem segue a Ruta 16.
Essa é a Região do CHACO ARGENTINO. Uma reta de 833 km passando por cidades como Pampa Del Inferno, Rio Muerto e Monte Quemado. O que esses nomes lhe sugerem? Certo! Calor de 42 graus.
É como você estar pilotando dentro de uma sauna. O vento é quente, o calor insuportável, você dentro de um conjunto de cordura se derretendo todo.
MITO 4: Basta acelerar muito e passar rápido pela Região do Chaco.
ERRADO. Faça uma velocidade de cruzeiro, para sua moto render 18 km/litro ou mais porque as vezes tem posto mas não tem gasolina. Tem posto, gasolina, mas falta luz.
Com certeza leve um Galão de 5 litros e o abasteça em Corrientes, Resistência ou Pres. Roque Saenz Pena.
Até San Pedro, mantenha-o cheio porque você pode precisar. Com o tanque na metade, pare no primeiro posto mais civilizado que encontrar. Por civilizado quero dizer os que têm uma lanchonete. Abasteça e se hidrate.
Ah!! E ainda tem 100 km de estrada muito ruim onde, na falta de espaço, um buraco nasce dentro do outro. Atenção Total no trecho dentro da Província do CHACO, próximo a TACO POZO. Essa província não tem muitas receitas e conservação de estradas não é uma de suas prioridades.
Calma, não acabou. Esse trecho é cheio pássaros e outros animais na pista. Fique atento a eles.
MITO 5: Distribua igualmente o trecho entre Foz e Salta.
ERRADO. Aqui não é uma questão de quantos quilômetros você consegue rodar por dia.
Temos algumas variantes que irão alterar sobremaneira sua passagem nesse trecho.
Primeiro: Aduana. Tente passar o mais cedo possível. Se demorar na Aduana, paciência. Você não conseguirá "adiantar a viagem" aumentando o ritmo.
Segundo: De Foz até Corrientes tem uma série de pequenas cidades e, SEMPRE, haverá um Posto Policial na entrada e saida de cada uma delas. Ultrapasse a velocidade da via e poderá amargar multa, sermão e, claro, atraso na viagem.
Terceiro: Chegando cedo a Corrientes e tendo ainda disposição e luz do dia, continue. Tente chegar a Presidente Roque Saenz Pena. Com isso você irá reduzir sua exposição na Região do Chaco, e terá menor quilometragem entre esse ponto e Salta. Saindo cedo, bem cedo, pegará menos calor.
MITO 6: Deixe para descansar em San Pedro.
ERRADO. Aproveite que está passando por SALTA e tire um dia para conhecer a cidade e descansar da moto.
Salta é a melhor cidade do norte da Argentina, tem boa infraestrutura e é um ótimo lugar para ficar um dia.
Descanse. Conheça a cidade, o MUSEU DE ARQUEOLOGIA DA ALTA MONTANHA (com a múmia das 3 crianças incas). Conheça a história. Aproveite e tome uma das melhores cervejas do mundo.
Esse dia será muito importante para lhe repor as energias e prepará-lo para a Travessia dos Andes.
MITO 8: Todos sentem o Mal da Altitude.
ERRADO. Se você tem menos de 40 anos, não se preocupe. Você não sentirá nada ou muito pouco.
Mas, se você já passou dos 60 anos, prepare-se. Pegue no hotel de Salta o máximo de sachê de Chá de Coca que puder. Deixe-os na jaqueta e já coloque um na boca assim que entrar na estrada para Jujuy.
A questão do Mal da Altitude tem a ver com o tempo de permanência entre Jujuy e San Pedro. Ali a Aduana é perversa. Ora é muito rápido (raridade), ora você irá amargar até 4 horas de espera. Aí, meu amigo, o mal da altitude vai lhe pegar. Pode ser uma dor de cabeça daquelas incomodas, um zumbido no ouvido, uma labirintite ou, o que é pior, tudo ao mesmo tempo.
O que vai lhe ajudar nesse trecho é Serenidade e Determinação. Se você fez um bom condicionamento, ótimo. Se não, vai se arrepender por não o ter feito.
MITO 9: A melhor época para ir ao Atacama é no verão.
ERRADO. Isso vale para o frio que você vai pegar na travessia. Mas você sempre terá uma "janela" de boas temperaturas lá em cima, que pode variar de 8h30 às 15h00 no verão e de 11h00 às 13h00 na meia estação.
Junho a Agosto é mesmo desaconselhável, mas Dezembro a Fevereiro é período de muito calor e muita chuva na região do Chaco. Quando falo de chuva, é chuva mesmo. Forte e constante, com rajadas de vento. Isso de Foz até Resistência. A região do Chaco chove menos e, acredite, pelo calor, você vai desejar que esteja chovendo naquele trecho.
O melhor período é mesmo de MARÇO a final de ABRIL ou de SETEMBRO a fins de NOVEMBRO.
MITO 10: Passada a Cordilheira seu desafio acabou.
ERRADO. San Pedro de Atacama é outro desafio. Fora o calor seco do dia e o frio da noite, afinal estamos falando do deserto mais seco do mundo, ainda temos a poeira.
San Pedro é uma cidade sem calçamento, e toda a região tem uma poeira fina, vermelha. Quase um pólen.
Para os que sofrem ou já sofreram de rinite alérgica, atenção. Lá ela volta com força.
Leve antialérgicos e anti-inflamatórios. Para os que têm problemas com alergia, esses remédios são itens obrigatórios.