Quando se fala em viagens de moto, as pessoas que nos ouvem pensam em todos os riscos envolvidos e se assustam de verdade. Claro, eles existem.
Mas, como motociclistas experientes, sabemos eleger os riscos e buscar mitigá-los ao máximo.
Planejamos o trecho diário, a hora de saída, os pontos de parada, o ritmo da viagem em função de nossa disposição e da previsão da meteorologia. Temos Plano A e planos de contingência. Evitamos riscos extremos. Mas desta vez, não fiz como manda o Manual de Sobrevivência do Motociclista Experiente.
Foi uma experiência quase assustadora. Subindo a BR 101 rumo à Trancoso, fui pego por chuva torrencial, muito maior do que os sites de meteorologia previam. Em quantidade e duração, a chuva me castigou por mais de 6 horas seguidas.
Reduzindo o ritmo para viajar com segurança, só consegui mesmo foi ficar mais tempo debaixo daquele temporal. O correto teria sido achar um local de pernoite e continuar a viagem no dia seguinte.
Não o fiz. Eram apenas mais 300 km (depois de 750 km já rodados) que, de dia e tempo seco durariam 3 horas ou menos. Achei que reduzindo a velocidade faria esse percurso em 4 horas ou um pouco mais. Ledo engano.
A estrada acumulava água nos pontos mais baixos. As valas de escoamento de água, dos dois lados da pista, não davam conta do volume de água e transbordavam, trazendo para a pista lama e pedras. Um terror.
Só isso já dobrava meu risco, mas a noite chegou e, com ela, os riscos triplicaram. Conseguia, e isso já era muito, manter a moto em pé, derrapando pouco, e dentro da faixa de rodagem. Era o máximo que conseguiria.
Buracos na pista? Eu não perceberia. Tive sorte de não encontrá-los. Mas encontrei pedras roladas da enchente que se formou e algumas quase me levam ao chão.
Animais na pista? Encontrei com dois que, por sorte ou proteção divina, não completaram a travessia. Não teria como parar a moto e seria um tombo bem feio.
Ao final, os 1050 km que seriam feitos em 12 horas, contando as paradas para abastecimento e os trechos urbanos de velocidade reduzida, se transformaram em 17 horas. Saí as 5h30 da manhã e só cheguei ao destino às 22h40.
Viajar à noite, com chuva forte, se assemelha aos medos que trazemos às pessoas quando contamos nossas viagens de moto.
Somos, mais que motociclistas, gestores de riscos. E com todo o conhecimento e experiência, ousei deixar a segurança e abusar da sorte. Desta vez tido sucesso, mas não arriscaria ousar novamente. Não nesse nível.
Caso se encontre em uma situação dessas, aceite aqui o meu conselho. Faça o que lhe trará mais segurança e conforto. Pare e retome o trajeto no dia seguinte.
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